Ser mãe ou não ser: 9 motivos porque decidi pelo sim

Nota: esse relato foi escrito em novembro de 2022, quando ainda estava grávida de 2 meses da Lili.

“Você quer ter filhos?”

A verdade é que desde muito nova nunca quis ter filhos. Por muito tempo essa certeza era algo tão enraizado no meu ser que eu simplesmente dei a questão por encerrada e não pensei mais no assunto. Ainda assim, sempre tive a noção de que o relógio biológico estava em contagem regressiva, principalmente quando, inesperadamente, eu era relembrada com essa pergunta “sutil”.

O questionamento sobre ser mãe ou não deve ser um dos mais frequentes que as mulheres entre os 30 e 35 anos (37……ainda não tem? Tá na hora hein!) mais ouvem no seu dia a dia entre amigos e familiares (e estranhos também)…como se o passar da idade trouxesse alguma clareza sobre a questão. Não, para mim, o passar da idade me trouxe mais dúvidas do que clareza.

“Ahhhh, mas quando chegar perto da hora limite, a natureza vai falar mais alto, você vai sentir naturalmente essa vontade de ser mãe”. Não, essa hora também não chegou. Nem a paixão por crianças. Nem a dúvida sumiu.

Hoje, com 38 anos e grávida, posso dizer que não foi a natureza que me fez decidir ser mãe. Eu até poderia arriscar mais alguns anos à frente, claro, com um risco crescente de dificuldades e complicações, e continuar postergando a decisão. Mas, depois de muita análise, discussão com meu terapeuta e meu namorado a decisão foi tomada. Então, o que me fez decidir ter um filho? Por que decidi dar um salto no escuro, sair de cima do muro e fazer um bebê? Gostaria de dividir os pontos que me levaram a tal decisão. Pode ser que eles te ajudem nessa escolha difícil:

1.  Arrependemos mais do que não fizemos do que dos erros cometidos tentando

Sendo que paixão e desejo não apareceram para ajudar na decisão, a maioria dos fatores que me trouxeram até esse ponto são práticos.

Entre eles está que ser mãe é um dos maiores acontecimentos da vida de uma mulher, queira você passar por ele ou não. E eu sempre tive um pouco de FOMO (do inglês, fear of missing out, ou, medo de não participar). Medo de me arrepender no futuro de não ter tido essa grande experiência de vida. Sendo que muitos estudos já demonstraram que as pessoas se arrependem muito mais de um ato não realizado do que um erro cometido, e eu como um ser altamente racional, pendi para o lado da ciência nesse caso.

2.  A possibilidade de arrependimento é baixa

Outro motivo prático: a possibilidade de arrependimento de ter filhos é baixa. Quantas mães vemos por aí que se arrependeram de ter filhos? Claro que existe uma porcentagem que se pudesse botaria o(a) marmanjo(a) de volta no útero e devolveria para a existência. Mas mesmo minha mãe, que matracou na minha cabeça desde criança que se não fosse os filhos ela teria feito muitas outras coisas na vida, não vejo arrependida (e esse é outro fator da lista). É claro que ela teria feito muitas coisas mais, ou diferentes, mas será que não estaria pensando: “Nossa, como eu seria mais feliz se tivesse tido filhos!”  Quem sabe?

Pesquisando sobre o assunto encontrei alguns estudos que mostram que a porcentagem de arrependimento de ter filhos fica na casa de 7% nos Estados Unidos, 8% na Alemanha, 8% na Inglaterra e entre 11 e 14% na Polônia, dependendo do grupo analisado (referências abaixo). E quais são as razões para o arrependimento?

Uma das razões para o arrependimento é que mulheres que não se sentem vontade de serem mães acabam cedendo a pressões sociais e tendo filhos, apesar de não se verem nesse papel. As mulheres que tiveram filhos nessa situação pensam que eram ser mais autorrealizadas e livres antes de serem mães. Outra razão é a situação econômica da família sendo que, em famílias com menos condições financeiras, há mais arrependimento. Além disso, ser mãe ou pai solteiros, sem que haja suporte financeiro e emocional do outro parceiro, faz com que o número de arrependimento aumente. Esse fator está associado diretamente com a questão do arrependimento da relação afetiva que havia antes da separação e, consequentemente, estendendo o arrependimento para a criança.

Um dos fatores mais importantes é que pais que se arrependem de ter filhos cresceram eles mesmos em ambiente caracterizado por violência e rejeição (mais sobre isso em outro item). Isso porque tais condições afetam o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) aumentando a frequência e intensidade das experiências estressantes, contribuindo para o aparecimento de patologias psicológicas.

E quanto a se arrepender de não ter tido filhos? Uma pesquisa mostrou que 25% das mulheres que não tiveram filhos se arrependeram em uma idade mais avançada. Nesse estudo algumas delas afirmaram que não queriam infligir as mesmas dores que sofreram quando criança em seus filhos (mais uma vez a questão do ambiente).

Ou seja, eu que não tinha uma forte opinião sobre ter ou não ter filhos, a estatística joga a favor de tê-los: a probabilidade de eu me arrepender é metade da de ter um filho. É claro que isso é muito pessoal e estudos não podem dizer a você o que fazer sobre uma das decisões mais importantes da vida de uma mulher. Se sua opção de ter/não ter filhos é consciente e assertiva, simplesmente siga seu coração. Para mim olhar as estatísticas foi muito importante na decisão

3.   As crenças de familiares, amigos ou sociedade não são as mesmas que as minhas

Como eu já relatei, minha mãe nunca expressou uma super paixão em ter filhos. Acho que foi mais o contrário, na verdade. E até hoje, depois de anos de análise, é difícil diferenciar o que são as crenças dela do que são as minhas.

Como ouvi desde muito nova que ter filho foi sempre um entrave a muitas coisas que ela queria fazer, e tendo em vista que nossa mãe tem uma influência absurda em nossas vidas, demorei muito para aprender a separar o que era pensamentos/emoções dela do que era verdadeiramente meu.

A situação também pode ser mais sutil, não relacionada diretamente a ter filhos. Uma amiga me relatou certa vez que, como ela tem uma mãe submissa, que faz absolutamente tudo pelo marido, ela criou um medo absurdo de ser subjugada e de perder a liberdade em um relacionamento. Isso cria entraves a manter uma relação saudável e duradoura e, consequentemente ter filhos.

O que eu quero dizer é que temos que prestar muita atenção em nossas crenças e saber diferenciar o que é nosso, o que realmente acreditamos e queremos, daquilo que foi impresso em nosso subconsciente devido ao ambiente em que crescemos e às pessoas que influenciaram nossa vida. Pode ser que estejamos somente replicando algo que não necessariamente acreditamos verdadeiramente.

4.   O modelo de família que eu vivi pode ser diferente do que eu vou criar

Isso é outro item citado nas pesquisas científicas que fazem pais se arrependerem de ser pais e que tem bastante influência sobre nossa decisão, estando nós conscientes disso ou não.

Eu não cresci em um ambiente de violência física ou de rejeição, mas a relação dos meus pais sempre foi muito conturbada, com muito ciúmes e discussões (violência verbal e emocional). Cada criança internaliza o que vê de determinada forma e para mim, toda essa instabilidade foi absorvida na forma de negação de toda a instituição da família. Achava que meus pais eram inconsequentes no trato conosco. Como eu não queria replicar esse tipo de comportamento, criar a minha própria família estava fora de cogitação.

Mas a gente cresce, faz análise, começa a entender um pouco mais as coisas e separá-las pelo que elas são. Começa a entender que nossos pais fizeram o que eles melhor podiam ter feito naquele momento, mas o que eles fizeram não necessariamente era o melhor. Ou ainda, que eu não preciso repetir o comportamento deles. Pode ser, mas eu posso conscientemente tentar fazer diferente.

5.   Eu entendi e aceitei que vai demandar muito

Esse fala por si só. Criar um outro ser humano demanda tempo, dinheiro, energia, alma, tudo. É necessário aceitar essa realidade antes de seguir.

6.   Eu não preciso ser perfeita

Perfeccionismo é mais uma das razões, que talvez eu não tenha citado, que faz pais se arrependerem de ter filhos. Isso porque, a cobrança interna, a importância que a opinião alheia tem sobre os filhos, gera muito stress nos pais. Eu, racionalmente, já larguei mão disso (claro que eu só vou saber se consigo verdadeiramente desencanar na prática quando a Lili estiver por aqui).

Já entendi que, se eu quiser ser mãe, falhar é regra e não exceção. Temos que tentar o melhor e nos esforçar para crescer e aprender. Mas sempre vai existir algo que vamos fazer errado ou algo que vamos deixar de fazer e vai impactar a vida dos nossos pequenos. Faz parte da vida.

7.   Eu encontrei o parceiro para seguir nessa jornada

Quem você escolhe para fazer parceria e criar uma família importa absurdamente. Eu já tive alguns outros namorados na vida, relacionamentos sérios e duradouros com pessoas excelentes, mas ainda assim nunca tinha me sentido segura de que estava com a pessoa certa para essa jornada. Agora é diferente.

Sabendo da dificuldade que é criar um outro ser humano, ter a certeza de que você tem um parceiro, e não alguém que “te ajuda”, faz toda a diferença. Pensar que as noites acordadas, tarefas domésticas, cuidados com o bebê, etc., etc. serão compartilhados de forma justa e equânime traz segurança e mais tranquilidade para seguir no caminho de ter um bebê.

8.   Posso fazer tudo que eu quiser, mesmo com filhos (só vai dar mais de trabalho)

Preikestolen (Pedra do Púlpito) - Noruega

Uma das cenas mais impressionantes que vi quando eu morei fora do Brasil foi na caminhada de duas horas e meia até o Preikestonlen, na Noruega. Quando estava descendo a trilha, já super cansada de toda a maratona de subida, o peso da mochila, os joelhos doendo, correndo para não perder o último ônibus de volta, avistei uma família jovem, com o pai, a mãe, uma criança de uns 3 anos, um bebê carregado nas costas e o cachorro da família.

Em algum ponto o cachorro parou em uma pedra e começou a andar de um lado para o outro, desorientado, com medo do salto que teria que dar para poder continuar a descida. Sem encontrar outro caminho, começou a latir. O pai, que carregava o bebê e já estava a alguns passos de distância, deu meia volta, pegou o cachorro no colo, como se nada estivesse acontecido, e continuou a descida tranquilamente.

Está aí o modelo de família que eu pretendo construir, que eu admiro. Uma família que encare as trilhas da vida juntos, que continue fazendo suas viagens, trilhas, escaladas jutnos, mesmo que todo o resto da família tenha que carregado nas costas, nos braços, onde tiver que ser. Sonho? Quem sabe.

9.   Eu admiro as famílias

Minha família é uma bagunça. Problemas de saúde, problemas financeiros, fofocas sem fim, bem parecida com uma daquelas novelas mexicanas que passam às 15:45 no SBT. Mas, apesar de tudo, eu gosto de fazer parte dessa bagunça, gosto de ir visitar meus pais (que são separados), brincar (um pouco) com meus sobrinhos e ficar rindo das histórias. Toda vez que eu volto pra casa (moramos há uns 100 km de distância) fico sentindo que queria um pouquinho mais.

E, para que essa a alegria de estar junto da família seja preservada é necessário…ter uma família. É simples como isso.

Enfim, esses são alguns motivos que me decidiram por ter um bebê. Se eles serão suficientes só o tempo dirá…eu volto para contar.

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