Como sabemos desde criança a via de parto no Brasil pode ser “escolhida” pela mulher, entre parto normal ou cesárea. Escolhida em termos, mas mesmo esse em termos não acontece em muitos países do mundo, já que sendo a cesárea uma cirurgia, ela só é realizada em casos de necessidade ou emergência.
Eu sei, escolhida é um termo um pouco forte. Se você tiver um convênio médico, vai ser muito difícil achar um médico que queira fazer um parto normal e se precisar usar o sistema público, vai ser muito difícil fazer uma cesárea. Mas existe um meio do caminho, onde tem surgido novas equipes de médicos particulares que estão dispostos a fazer parto normal. A um custo. Esse custo pode ser razoável ou elevado, dependendo da equipe, da região, da quantidade de apoio, etc.
Não quero entrar na discussão sobre via de parto nesse post, não é essa a ideia. Meu objetivo aqui é, caso você escolha fazer um parto normal, o que NÃO fazer para que o seu parto seja o mais positivo possível.
Depois de algum tempo de conversas com o Xu, de ler um pouco, ver algumas estatísticas de risco para ambos os tipos de parto, eu decidi fazer meu parto via normal. Natural de preferência (natural é sem nenhum tipo de intervenção como anestesia, indução, fórceps, etc.), mas normal seria excelente também.
No fim meu parto em si foi bacana, respeitoso, normal da forma como eu queria, mas nem próximo do que imaginava. E eu acredito que algumas coisas poderiam ter ajudado a eu alcançar um parto mais positivo do que foi. Então, vou listar aqui meus “erros” e coisas que eu faria de forma diferente, se decidisse ter um novo parto normal:
Índice
Toggle1. Não confie na sua equipe médica
Se você quer ter um parto mais difícil do que o esperado esse é o passo número 1 da lista para você ser bem-sucedido. Pense que você estará em um dos momentos mais frágeis da sua vida, com dores bastante intensas, muitas dúvidas e apreensões e presente nesse mundo somente de corpo, porque a alma já saiu flutuando há tempos. A mente não responde, o raciocínio não existe. Você está vulnerável.
Nessa situação você precisa ter pessoas por perto nas quais você confie que tomarão as melhores decisões, de uma forma que siga suas vontades e, ao mesmo tempo, não coloque a sua vida ou do seu bebê em risco. É uma mistura complicada. De um lado da moeda, mães, pai, parceiros, irmãos, pessoas próximas estarão ali por você, te apoiando e transmitindo suas vontades para sua equipe médica. Por outro lado, é imprescindível que você confie que o médico escolhido seguirá como você ou seus porta-vozes desejam, sem fazer pressão, terrorismo ou não seguindo suas escolhas.
Também, além de competente no que faz sua equipe deve ter um pouco mais, deve ter sua confiança de olhos fechados, para que em momentos de tensão você possa seguir a orientação desses profissionais sem titubear.
Infelizmente não foi o que aconteceu comigo. Por algum motivo, que eu não sei explicar ao certo (ser uma escorpiana desconfiada, talvez?), eu não consegui estabelecer uma relação de confiança nem com a minha médica e nem com a enfermeira obstétrica. Eu já havia trocado de médico 2 vezes, a obstetra era muito capacitada, fazia somente partos normais, me acolheu super bem lá pelas 26 semanas de gestação. Mas sabe aquela química do primeiro encontro (do segundo, terceiro, décimo)? Não rolou. Eu não tinha desconfiança na capacidade dela em fazer com que minhas vontades fossem atendidas ou na capacidade dela como médica. Mas por outro lado também não havia confiança nas suas recomendações no fim da gravidez, depois da 35 ou 36ª semana, quando as coisas começaram a ficar mais complicadas na minha gravidez.
Olhando para traz, talvez o fato de eu sentir que ela queria fazer o parto a qualquer custo, já que estaria de férias na minha data provável de parto, tenha contribuído. E com isso, já na 34ª para a 35ª semana tenha começado a me receitar remédios naturais para acelerar o parto. O fato de ela ter feito terrorismo quando o meu líquido amniótico ficou baixo, mas ainda super dentro do normal para o período, ameaçando a indução, tenha sido outro.
Enfim, foi uma mistura bombástica para o parto e eu demorei a perceber essa questão (acho que me dei por conta dessa falta de confiança somente no meu trabalho de parto e tive certeza somente no pós-parto).
Durante o trabalho de parto qualquer orientação que ela me dava eu questionava, não queria seguir. Eu fiquei fechada no meu mundo com o apoio do meu namorado e minha doula, os que fizeram as coisas saírem bem no final.
No fim deu tudo certo, a Lili veio ao mundo depois de muita luta e 19 horas de parto, com mais de 6 horas de expulsivo. Mas eu não tenho uma lembrança positiva do trabalho da equipe médica que eu contratei, somente da doula que foi contratada separadamente. E se eu fizesse outro parto normal com certeza não seria com essa equipe.
2. Leve o seu pior medo até o dia do parto
Foto de Suzy Hazelwood
Se quiser que aquilo que você mais teme no seu trabalho de parto aconteça, não lide com o seu(s) medo(s) antes. A lei da atração vai fazer com que você experimente exatamente aquilo que você teme (não, não sou profeta do caos e nem fatalista, mas por vezes já vivenciei que aquilo que visualizei, imaginei, desejei, sonhei, para o bem ou para o mal).
Meu maior medo era ter um parto induzido. Não tinha medo de cesárea, de anestesia ou das dores do parto. Mas indução era algo que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. Acho que pelo fato de eu querer um parto natural e ter lido muito sobre o como as coisas desandam quando começamos um parto dessa forma. Depois da indução as dores da contração tendem a ser mais fortes, o que faz com que anestesia seja necessária, que faz com que o trabalho de parto desacelere, que faz com que o uso de vácuo, fórceps, episiotomia sejam mais prováveis. Pelo menos isso era que o eu acreditava.
Minha doula tentou me dissuadir dessa ideia, contando sobre seu trabalho de parto induzido e tranquilo, tentando me ajudar com esse medo e sendo super positiva. Mas ainda assim, eu não consegui abandonar essa tensão e no fim acabei quase tendo o parto induzido. Por sorte a Lili decidiu vir na noite anterior à indução e pelo menos dessa indução eu consegui escapar.
Mas durante o trabalho de parto a descida da Lili não estava acontecendo de forma satisfatória. Depois de umas 6/7 horas tentando colocar a pequena para fora, a médica propôs a utilizar ocitocina, a mesma medicação da indução para intensificar as contrações. Eu sabia o que isso significava e então eu quebrei. Toda a força emocional e psicológica que eu tinha tido até aquele momento desmoronou. Já não estava aguentando as dores, estava me sentindo frustrada, cansada e preocupada por não conseguir trazer a Lili ao mundo, mas estava aguentando firme. Até a médica propor o uso do hormônio. Como relatei antes, a desconfiança na médica só piorou a situação. Não acreditava que ela estava fazendo o melhor para mim e para a Lili, achei que ela estava tentando somente terminar aquilo rápido e ir para casa (erro número 1).
Enfim, o que eu temia, indução, uso de anestesia, vácuo, etc., tudo aconteceu como eu não queria (fórceps e episiotomia estavam proibidos). Acredito, sinceramente, que se eu tivesse lidado melhor com esse medo antes do parto, as coisas teriam sido mais suaves e tranquilas.
Resumindo: lide com seus medos antes do trabalho de parto, converse com terapeuta, amigas, família, veja vídeos com final positivo daquilo que você mais teme. Vai ajudar e muito a você ter um trabalho de parto mais tranquilo.
3. Não faça fisioterapia pélvica
O meu ginecologista de confiança, de anos, me recomendou inúmeras vezes que eu fizesse fisioterapia pélvica. Dentre as 1521 coisas que eu tinha para fazer durante a gravidez essa foi uma das que eu decidi deixar de lado, não seguindo sua orientação. E é uma das coisas que eu me arrependo verdadeiramente. No dia do trabalho de parto, não importa o quanto minha médica falasse, demonstrasse, fizesse mímicas, eu não tinha ideia da força que eu tinha que fazer para colocar a Lili para fora. Minhas contrações ainda por cima, não ajudavam, eram muito fracas.
Havia estudado muito, praticado algumas respirações, mas nunca colocado em prática a tal da força. E é uma força específica, que até hoje não sei se conseguiria reproduzir. E isso aprendemos na fisioterapia pélvica, literalmente colocando um balãozinho dentro da pelve e aprendendo a empurrá-lo para fora.
No fim, devido a um hematoma que tive durante o trabalho de parto acabei tendo que fazer a tal da fisioterapia pélvica da mesma forma. Mas ao invés de forma preventiva, como poderia ter sido, de forma curativa. Por isso, se você puder, faça um esforço, perca a vergonha e preguiça (que eu tinha muito) e procure uma boa fisioterapeuta pélvica para te ajudar.
4. Continue trabalhando igual a uma maluca na gravidez (e se possível assuma uma nova função na empresa)
É, se estresse bastante, trabalhe como uma doida e ainda assuma uma função completamente nova, que demande um tempo gigantesco para aprender e que seja essencial para a sua empresa. Isso se você quiser que o seu parto seja mais complicado do que poderia ser.
Tenho uma suspeita bem grande de que as complicações do meu trabalho de parto possam ter sido influenciadas, em parte, devido ao estresse que passei durante a gravidez por conta do trabalho. Eu já sabia que estava grávida, de cerca de 2 meses, quando decidi assumir a função de uma pessoa que saiu. E não era uma função da qual eu já tinha desempenhado ou que eu tinha algum conhecimento. Era um trabalho intenso de aprendizado em uma área vital para a empresa. O nível de estresse foi elevado e lidar com a pessoa que estava saindo foi uma das piores experiencias que já tive.
Já li inúmeros livros que correlacionam estresse durante a gravidez com efeitos negativos para os recém-nascidos.
Se puder, não faça isso. Eu tinha escolha e escolhi mal.
Por você e pelo seu bebê.
5. Acredite que possa fazer tudo sozinha
Minha mãe insistiu inúmeras vezes para vir me ajudar, que o parto e pós parto não eram coisas fáceis e que eu iria precisar de algum tipo de suporte. Eu, teimosa e ingênua, achei que nós dois conseguiríamos dar conta de tudo sozinhos, sem ajuda, sem suporte emocional, sem família por perto. Não, não é possível.
Talvez se meu pós-parto não tivesse sido tão complicado, se a Lizzy tivesse nascido um bebê unicórnio, se eu não tivesse tido depressão pós-parto, se, se e se. Muita coisa precisaria ter se alinhado para que essa história de fazer tudo sozinha(os) tivesse dado certo e não foi o caso.
No fim, meu pai e meu irmão foram ao hospital dar um apoio emocional depois que eu surtei e tive um colapso nervoso, chamando meu psicólogo, um amigo do trabalho, minha médica e Deus e o mundo para me acudir. Meu pai e minha cunhada vieram nos primeiros dias da Lili ajudar a limpar e cozinhar. Minha mãe e a esposa do meu pai também vieram dentro de algumas semanas para fazer o que tivesse para ser feito. Foi essencial para manter não só as necessidades básicas atendidas, mas também a cabeça no lugar. Eu estava um caco.
Mas essa ajuda poderia já ter sido planejada, organizada com eles se eu tivesse sido mais humilde. Não precisaria ter sido no susto, às pressas e com tanta preocupação.
Então, se você quer ter uma experiência não tão legal, acredite e faça de tudo para evitar todo e qualquer tipo de ajuda, mesmo que te ofereçam explicitamente.
6. Acredite que nada possa dar errado
Tenho que confessar que devo ter sido inocente ou arrogante com relação ao meu parto. Apesar de saber racionalmente que um trabalho de parto é bastante imprevisível, acho que não acreditava nisso verdadeiramente. Eu tinha em mente como parto seria, como eu iria passar por isso, como eu me sentiria no momento do nascimento, como eu lidaria com as dores, etc. Eu me foquei bastante na ideia de que se eu pensasse somente em coisas positivas, lesse livros sobre hypnobirthing, nada poderia dar errado. Não me preparei psicologicamente para o desconhecido. Ledo engano. Muita coisa deu errado.
Apesar de estatisticamente o parto normal ser mais seguro para mãe e bebê que uma cesárea, as coisas podem dar errado sim. Eu não prestei atenção nos pontos que poderiam sair fora do controle, mesmo que a probabilidade fosse baixíssima.
Em minha defesa posso afirmar que hoje existe um movimento crescente contra um parto via cesárea no Brasil, que até acho bastante positivo. O país é um dos campeões desse tipo de parto no mundo, ficando somente atrás da República Dominicana, com 58,1% de partos por essa via, quando o recomendado é de 15% pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, ninguém fala do lado negativo do parto normal, dos riscos, dos efeitos na mulher após o parto, nas coisas não tão glamurosas. E como tudo o que é falado são flores, eu não me atentei aos espinhos.
Eu não sei se encararia novamente um parto normal, ou um parto por qualquer outra via, mas se eu o fizesse iria de mente aberta. Aceitaria que o caos pode bater à porta e que tudo aquilo que eu me preparei e planejei pode ser avassaladoramente diferente da realidade.
Claro gente, isso aqui é ironia (bom deixar claro né). Não faça nada disso que eu descrevi aí em cima se você quiser ter um parto mais tranquilo e positivo. Nem tudo é possível financeiramente a todos, como fazer fisioterapia pélvica com uma profissional. Mas existem diversos materiais e vídeos online que ajudam nessa questão e nas outras que eu relatei.
E se você estiver perto do seu parto, tenha uma boa hora!